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Relação da densidade energética e consumo alimentar

Foto do escritor: IENSIENS

Algumas questões norteadoras me levaram escrever sobre este tema. Entre elas a ideia de que o consumo de uma dieta de alta densidade energética aumentaria a plenitude gástrica em comparação com uma dieta de baixa densidade energética? E qual a relação disto com a fome ou apetite?


Um meta-análise mostrou resultados de 11 estudos, e concluíram que a alteração da densidade energética da dieta não teve efeito significativo sobre a fome, mas aumentou a plenitude.

Sabe-se que a ingestão de alimentos é motivada pela fome e apetite, que por sua vez também tem diversos fatores envolvidos na ação de comer. Buscar um nível adequado de saciedade é um caminho utilizado para reduzir o consumo excessivo de alimentos.


Para continuar, é preciso entender o conceito de densidade energética, que é definida como a relação entre a quantidade de energia presente no alimento (kcal) e o peso de sua porção (g). muitos estudos buscam relacionar a densidade energética e apetite. A distribuição dos macronutrientes e teor de água influencia na densidade energética. Alimentos de alta densidade energética contém geralmente maior quantidade de gordura e açúcar, bem como os de baixa densidade energética são compostos preferencialmente de água e fibras.


Temos ainda a palatabilidade envolvida no apetite. Drewnowski (1998) já discutia que alta densidade de energia tende a estar associada a alta palatabilidade e vice-versa. Como regra, alimentos densos em energia são palatáveis, mas não saciam, enquanto alimentos com baixa densidade de energia são podem saciar mais, porém são menos palatáveis.


A grande dificuldade é que estudos científicos consigam estabelecer as relações com o apetite, volume dos alimentos ingeridos e composição corporal. O que sabemos é que utilizar as fibras como estratégia para aumentar a saciedade é uma ideia, já que ela é capaz de aumentar a distensão gástrica e reduzir o tempo do esvaziamento gástrico. Este efeito se completa com o aumento da produção dos hormônios liberados pelas células entero-endócrinas como o PPY e GLP1, por exemplo. Contudo, é difícil esta afirmação como efeito positivo na saciedade uma vez que temos na literatura a influência dos macronutrientes na liberação destes hormônios, e não um grupo de nutriente apenas.

Vale lembrar também que a presença da água nestes alimentos também pode contribuir uma vez que aumentam o peso do alimento sem aumentar a energia, além de “preencher” maior parte do estomago, favorecendo a saciedade precoce.

Outro aspecto, porém, que vale a discussão é que algumas evidências apontam que o volume da refeição também é um fator que influencia na ingestão calórica diária.


Dois trabalhos, do mesmo grupo de pesquisadores que investigaram salada e saciedade trazem resultados interessantes.


Num primeiro estudo os autores verificaram que consumir uma quantidade fixa de salada com baixo consumo de energia reduziu a ingestão de energia das refeições. No próximo estudo, o objetivo era investigar se esse efeito dependia de servir salada antes, e não do prato principal, ou de consumo compulsório e não ad libitum.

Neste último os resultados mostraram que a adição de uma quantidade fixa de salada à refeição reduziu a ingestão de energia em 11%. O consumo de salada ad libitum foi menor que o consumo obrigatório e não afetou significativamente o consumo de energia. Em todos os participantes, o momento de servir a salada não influenciou significativamente a ingestão de energia, porém um dado interessante é que o consumo de salada com baixo consumo de energia antes e não com o prato principal aumentou o consumo de vegetais em 23%.


Desta forma, é fundamental buscar a melhor estratégia de acordo com o objetivo que se quer alcançar com seu paciente. Se o objetivo é aumentar a ingestão de vegetais, servir salada ou sopa como primeiro prato na ausência de outros alimentos pode ser uma abordagem mais eficaz. Por outro lado, consumir uma salada densa e com baixo consumo de energia pode ser usado como uma estratégia para reduzir o consumo de energia da refeição.


Claro que este assunto não se esgota por aqui. Podemos discutir a influência de diversos fatores ainda, como o exercício físico, estado emocional, microbiota intestinal e por aí vai.

Espero levar discussão e reflexão! Abraço

Viviane





Moosavian, S.P.; Haghighatdoost, F. . Dietary energy density and appetite: A systematic review and meta-analysis of clinical trials. Nutrition, 69, 2020.

Rolls, B. J., Roe, L. S., & Meengs, J. S. Salad and satiety: Energy density and portion size of a first-course salad affect energy intake at lunch. Journal of the American Dietetic Association, 104(10), 2004.

Roe, LS, Meengs, JS, & Rolls, BJ. Salad and satiety. The effect of timing of salad consumption on meal energy intake. Appetite, 58 (1), 242-248, 2012.

Drewnowslu, A. Energy Density, Palatability, Weight Control. Nutrition Reviews, Vol. 56, No. 12, 1998.

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